
Era uma vez um homem cuja segunda esposa era uma mulher superficial e egoísta. Esta mulher tinha duas filhas que eram igualmente superficiais e egoístas. O homem tinha uma filha que era doce e amável. Esta filha, que todos conhecemos como Cinderela, aprendeu rapidamente que devia comportar-se como lhe era indicado, aceitar os insultos e não seguir os passos das suas irmãs superficiais. Mas, graças à sua fada madrinha, Cinderela pôde sair daquela situação e ir a um grande baile onde atraiu um lindo príncipe. Quando o príncipe, perdido de amores, encontrou, mais tarde, uma Cinderela humilde a limpar a lareira não a reconheceu à primeira vista. O conto exige que aceitemos o poder da situação no nosso comportamento. Numa situação, assumindo um papel na presença da madrasta opressiva, a mansa e pouco atractiva Cinderela era uma pessoa diferente da Cinderela formosa e atractiva que apareceu no baile do príncipe. Em casa retraía-se, no baile sentia-se bela e andava, conversava e sorria como se fosse sempre assim. Jean-Paul Sartre, um filósofo francês a que já fizemos referência anteriormente, dizia que «somos todos seres em situação» e «não podemos distinguir-nos das nossas situações já que são elas que nos formam e decidem as nossas possibilidades». Nesta unidade vamos estudar a influência das situações, prestando especial atenção ao modo como nos vemos e nos influenciamos uns aos outros. O quê e como pensam as pessoas umas das outras? Até que ponto são razoáveis as ideias que temos de nós próprios? Dos nossos amigos? E dos estranhos? Até que ponto o que pensamos é coerente com o que fazemos? Como, e em que medida, as pessoas se influenciam uma às outras? Que força têm os «fios invisíveis» que nos ligam aos outros? Somos as personagens que encarnamos quando assumimos determinados papéis do género, dos nossos grupos, das nossas culturas? Como podemos resistir à pressão social das maiorias? O que é que dá forma ao modo como nos relacionamos uns com os outros? Porque é que as pessoas umas vezes ajudam as outras e outras vezes ferem – -nas? O que provoca o conflito social? Como podemos transformar os punhos fechados da agressão em mãos abertas de compaixão? Há um fio comum em todas essas perguntas. Todas se relacionam com o modo que as pessoas se vêem e se influenciam umas às outras. É disso que trata esta unidade, atitudes e crenças, conformismo e independência, amor e ódio. Como as pessoas, ou o quê, pensam umas das outras, se influenciam e relacionam. Ao contrário das outras ciências, a psicologia social tem quase seis mil milhões de praticantes. Olhar para os outros é um passatempo, nas ruas, na escola, nos transportes. Quando observamos as pessoas construímos ideias sobre o modo como pensam os seres humanos, como se influem uns aos outros e como se relacionam. Os psicólogos fazem o mesmo só que de uma forma mais sistemática e com mais esforço. Tudo parece simples, uma vez explicado, disse o Dr. Watson a Sherlock Holmes.
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