sábado, 21 de fevereiro de 2009

Documento nº 4 - "A passagem da massificação das escolas para individualização"

A escolaridade, enquanto sistema dirigido às massas, foi criado para corresponder às necessidades de massificação da educação criadas pela Sociedade Industrial. No limiar do século XXI, todos os pressupostos que estiveram na base da sua criação já não se mantêm. À medida que as economias transitam de lógicas industriais para lógica do saber, as necessidades passam a ter como referência a obtenção de “trabalhadores do saber”.
Por outro lado, pretende-se que a educação deixe de ser um acto isolado na sociedade e passe a ser uma actividade social plenamente integrada.
A sociedade contemporânea já tomou plena consciência das mutações que nela se operam, do ritmo sem precedentes na transmissão e produção de informações, das suas implicações no sistema de valores vigente e das questões pertinentes que se levantam.
A nova “Sociedade de Informação e Comunicação” parece assumir em todas as suas componentes a mudança, os ajustamentos e adequações que necessariamente teriam de surgir, nomeadamente na área da educação, resultantes da existência de toda uma multiplicidade de informação digital (COLLINS, HAMMOND e WELLINGTON, 1997).
Os conhecimentos adquiridos nas escolas representam uma parcela cada vez menor da aprendizagem que se adquire no dia-a-dia e ao longo da vida. Cresce cada vez mais o hábito de os pais colocarem os seus filhos, fora das horas de escolaridade obrigatória, em instituições de ensino paralelas às escolas oficiais onde é possível a aquisição de competências em áreas tão diversas como música, dança, línguas, desportos, informática, entre outras.
O aparecimento e difusão das novas tecnologias de informação e comunicação e as potencialidades de interacção através de redes de dados deixam antever um cenário quase infinito de oportunidades de auto-educação e de educação à distância, não só na idade escolar, mas ao longo de toda a vida. Actualmente, cada vez mais jovens e adultos exigem maior variedade de canais de aprendizagem.
As escolas ditas tradicionais não estão devidamente equipadas para fazer face a este desafio. A passagem da massificação das escolas para individualização da escolha livre, nomeadamente através das redes de dados, tenderá a retirar parte da importância às escolas e a colocá-la na casa de cada um.
Este cenário não retira importância ao papel que a escola pode vir a desempenhar no futuro. A enorme variedade de escolha, a agressividade crescente da oferta e a frieza das altas tecnologias podem mergulhar os cidadãos em geral, e as crianças e jovens em particular, em estados de ansiedade e dissonância.
Uma sociedade altamente tecnológica exige compensações ao nível dos valores humanos e da afectividade, algo que pode ser difícil de encontrar. É aqui que pode estar a importância de uma escola que tem que se reinventar: dar estrutura a um mundo de diversidade, contextualizar os saberes de base para uma autonomia de sucesso e fornecer as respostas humanas compensatórias (Gates, 1995).
A escola deverá assumir a liderança das mudanças estruturais, adequando as suas estratégias à nova realidade, modificando as pedagogias de actuação face ao novo saber tecnológico. Deve assumir-se como um veículo de educação, que instrui e forma, visando a autonomia, realização pessoal e social, o aprofundamento dos saberes, instrumentos e metodologias e a preparação intelectual e afectiva dos jovens para o desempenho dos seus papéis em sociedade (LBSE, 1986).
Na actualidade, o professor está inserido num contexto onde se produzem mudanças substanciais na prática docente. As novas tecnologias apresentam-se como recursos facilitadores de um processo de ensino/aprendizagem mais dinâmico, instrumental e socializador, de acordo com as competências a adquirir pelos alunos.
O professor pode ser o responsável para que a introdução das TIC nas salas de aula se faça de forma eficiente e eficaz. Para tal, deverá saber sintonizar-se com a sua época tecnológica e utilizar adequadamente os recursos tecnológicos segundo o nível, contexto e conteúdo a apresentar em momentos específicos. Deverá ainda possuir conhecimentos, destrezas e capacidades para desenvolver eficientemente as suas funções.
A utilização das TIC provoca uma forte tendência para a individualização da aprendizagem e controlo por parte do utilizador, seja aluno ou professor. Torna-se necessário dar um enquadramento pedagógico no recurso a estes meios. A questão essencial não reside na tecnologia por si só, mas na sua interacção com o processo de ensino/aprendizagem e no seu papel dentro do contexto do sistema educativo (ADELL, 1997).
As TIC estão a transformar os modos de usar e pensar os conteúdos das várias disciplinas e, consequentemente os processos pelos quais esses conteúdos são ensinados. No entanto, as novas tecnologias devem ser encaradas como mais um recurso educativo disponível para o professor.
A escola tem que estar familiarizada com o recurso a ferramentas informáticas e tem que saber integrar essa familiaridade na acção educativa normal, de modo a manter-se integrada na realidade que a circunda. Nos últimos anos, têm sido tomadas várias medidas mas a realidade ainda está distante dos objectivos traçados, sobretudo ao nível dos equipamentos.
Ao marcar a sua presença no ciberespaço, a escola faculta aos alunos não só o acesso a vastos repositórios de dados, mas também a múltiplas oportunidades de interacção social: podem “aprender-fazendo” coisas, em vez de “aprender-ouvindo dizer” como é que as coisas devem ser feitas. O aluno pode construir o seu próprio saber num processo cumulativo de ajuda múltipla e de percepção partilhada de problemas e necessidades.
O manancial de tecnologia que os alunos têm hoje à sua disposição e o modo como com ela interagem, leva-os a exigir dos seus professores um conhecimento e uso dessas ferramentas, assim como uma escola onde possam encontrá-las (SANTOS, 1997).
Outras questões se levantam: estarão os professores preparados para utilizar as ferramentas postas à sua disposição na execução das suas tarefas diárias? Estarão efectivamente preparados para acederem às fontes de informação e comunicação, como por exemplo a Internet, e daí poderem tirar aplicações didácticas?

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