segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Documento nº 3 - "O Consumo Nosso de Cada Dia..." (Parte III)

A questão que urge colocar é como chegámos a este ponto de perversidade? Como é que chegamos a um ponto em que consideramos mais natural o nosso direito a adquirir produtos, mais ou menos, supérfluos do cosmética do que o direito de milhões de seres vivos a uma vida condigna?

Porque a preponderância do consumo apesar de bastante subliminar não é inocente, bem pelo contrário, o dia 29 de Novembro celebra-se a nível mundial como Buy Nothing Day, ou seja, "Dia sem compras", naquilo que constitui um desafio à abstinência em relação ao consumo por 24 horas, com um propósito global mais amplo que é, precisamente, o de gerar um processo de reflexão colectiva capaz de questionar os modelos de pensamento deshumanizantes e perversos associados ao consumo. Nomeadamente, reflectir sobre a forma despótica e silenciosa como ele se apoderou das nossas vidas e das relações humanas.

Portugal, país onde a proliferação de grandes centros comerciais e afins não para de aumentar, a fúria consumista é particularmente selvagem e alienadora, com os apelos e induções agressivas ao consumo a aumentaram ao mesmo ritmo que as condições sociais se deterioram brutalmente. Por esse motivo, e por todas as questões que lhe estão associadas que urge suscitar, o 29 de Novembro - Dia Sem Compras, pretende ser um ponto de partida para uma sociedade diferente.

Numa época pré-natalícia, em que o aliciamento ao consum(ism)o adquire contornos de verdadeiro fenómeno de psicose colectiva, o que se pretende é lançar bases de reflexão sobre aquilo que nós próprios somos enquanto seres sociais. Será que vamos, em letárgicas visitas aos centros comerciais, continuar a aceitar o papel de meros consumidores, e reduzir toda as nossas dimensões pessoais, sociais, humanas a uma mera escala de bens materiais que nos pretendem fazer crer ser essenciais para a nossa vida e felicidade?

Será que não podemos acreditar que uma sociedade que se designa por "de consumo", ou seja, descartável, despojada de conteúdo, desumana, se torne numa sociedade bem mais igualitária, fraterna e solidária para todos os seres?

(1) Chomsky, Noam. Duas horas de lucidez. Mem Martins, Editorial Inquérito.(2) Baudrillard, J. (1996). A sociedade de consumo. Lisboa, Edições 70.(3) Zanotteli cit. in. Marujo, A. (2003). Missionário "mais incómodo" de Itália quer igreja empenhada contra armamento, Público, nº4671 / 5 de Janeiro de 2003, pp. 21.(4) Ramonet, I. (1998). The politics of hunger. [Em linha]. Disponível em <http://mondediplo.com/1998/11/01leader>. [Consultado em 10/01/2003].

Recolhido em: http://pt.indymedia.org/ler.php?numero=29302&cidade=1

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