“... a cultura não é apenas o lugar onde se sabe que dois mais dois são quatro. É também a indecisa posição em que se procura imaginar o que é possível fazer com números não muito claros, cuja potência acumulativa e expressiva ainda se está tentando descobrir. Há um sector da cultura que produz conhecimento em nome dos quais é possível afirmar com certeza... o que efectivamente dá dois mais dois: trata-se do saber que possibilita entender o ‘real’ com alguma objectividade, desenvolver tecnologias de comunicação globalizadas, medir o consumo das indústrias culturais e conceber programas mediáticos que ampliem o conhecimento em massa e criem consenso social. Outra parte da cultura, desde a modernidade, se desenvolve em função da insatisfação com a desordem, e às vezes com a ordem, do mundo: além de conhecer e planejar, interessa transformar e inovar.”
Grandes debates marcam hoje o campo da ciência, e mais particularmente das ciências humanas e sociais.O desenvolvimento tecnológico, as novas tecnologias e seus significados éticos e sociais; a globalização da economia e da cultura e as intersecções global / local, com o reaparecimento dos grupos étnicos, o fortalecimento de fundamentalismos de várias ordens, a organização e luta das minorias oprimidas; a diluição das fronteiras e a reconfiguração dos grupos de pertença e os sentimentos identitários; a homogeneização e instantaneidade da informação concomitante à proliferação das formas comunicativas; a individualização da sociedade e personalização dos interesses, aliadas à busca das vivências em grupo e reactivação dos laços comunitários; a presentificação da temporalidade contemporânea e o obscurecimento da ideia de futuro são temáticas que, acolhendo contradições e marcando a diversidade desafiadora do contemporâneo, instigam o trabalho do conhecimento.
Hoje, a globalização, os avanços tecnológicos e os efeitos sobre o trabalho, a constituição da sociedade informacional, a ocidentalização da cultura e super exposição dos média são processos contemporâneos que produzem mudanças nos modos de estar e sentir-se juntos, desarticulam formas tradicionais de coesão e a modificam modelos de sociabilidade.
Com frequência temos acompanhado um certo repúdio à globalização que surge da preocupação de que as culturas locais sejam suprimidas pelos valores ocidentais associados à expansão das políticas de mercado.
A globalização é percebida como uma imposição de uma forma estranha de vida e nos coloca como impotentes por não termos nenhuma voz nas decisões sobre políticas. A globalização aumenta o potencial de tensões sociais. Por outro lado, a globalização pode também despertar um sentimento contraditório de potencial diante de novas formas de exercer a liberdade e a responsabilidade para melhorar as condições materiais de vida. Para, além disso, temos a consciência de que, com este potencial, emerge na vida quotidiana algo assim como uma identidade global, que coexiste de alguma maneira com a cultura local. Daí, a necessidade de entender a globalização em relação às culturas locais.
A cultura encontra-se no centro dos debates contemporâneos sobre a identidade, a coesão social e o desenvolvimento de uma economia fundada no saber que tem levantado algumas questões: quem há-de garantir a vitalidade do debate e o diálogo público que condicionam a criatividade colectiva e a vitalidade cultural; como combinar a universalidade dos direitos com o reconhecimento dos interesses sociais e os valores culturais particulares; e, como pensar os direitos culturais e a preservação e consolidação da diversidade cultural como parte inseparável da consolidação dos direitos políticos, económicos e humanos?
Responder a estas questões requer um olhar multifacetado, uma perspectiva que promova não apenas a união de fronteiras do conhecimento, mas que seja capaz de articular um rompimento das mesmas e ampliá-las, propiciando o diálogo.
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