terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Documento nº 9 - "As Cidades"


Documento nº 8 - "Terciarização"

A terciarização pode ser abordada a partir de duas perspectivas diferentes. Por um lado, representa a expansão do sector terciário, que agrupa as actividades produtoras de bens imateriais. Simultaneamente, corresponde ao processo de transformação intersectorial, à reestruturação dos sistemas de produção, à crescente integração das actividades agrícolas, industriais e dos serviços. Segundo esta última abordagem, as barreiras entre os sectores primário, secundário e terciário tendem a atenuar-se, dando lugar a uma economia integrada.


Um bom exemplo desta articulação são as empresas agro-industriais.Este fenómeno corresponde à principal característica das sociedades da actualidade e que se tem reflectido no espaço. Tem vindo a impor a reorganização e reestruturação das economias e produzido grandes impactos na organização do território. Assim, os espaços têm sofrido intensos processos de reconfiguração funcional, quer em meio urbano quer em meio rural, concordantes com as alterações económicas, políticas e sociais observadas na actualidade.



Documento nº 7 - "Uma População que se Urbaniza"

A urbanização, fenómeno de civilização, continua ainda hoje a surpreender-nos, tanto pela rapidez com que se expande no espaço como pela sua universalidade. O conceito de urbanização corresponde tradicionalmente a um amplo conjunto de modificações de cariz marcadamente demográfico, económico e espacial, resultante genericamente da passagem de população do meio rural para o meio urbano. No entanto, numa abordagem abrangente, a urbanização deve ser entendida como um fenómeno cultural, tanto mais que a cidade é em si criadora e transmissora de inovação, sendo geradora de novas formas de cultura e de organização espacial, visíveis nas alterações dos estilos de vida, conteúdos e formas de estar.

Documento nº 6 - "Novos Estilos de Vida"


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Documento nº 5 - "Ambiente: Riscos e Incertezas" (Parte II)

"Segundo Beck, um aspecto importante da sociedade de risco é que os seus perigos não são limitados espacial, temporal ou socialmente. Os riscos de hoje em dia afectam todos os países e todas as classes sociais: as suas consequências são globais, e não apenas pessoais. Muitas formas de riscos manufaturados como aqueles que dizem respeito à saúde humana e ao meio ambiente, atravessam fronteiras nacionais. A explosão da central nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, ilustra bem esse ponto. Todas as pessoas que viviam na vizinhança de Chernobyl - independentemente da idade, classe, género ou estatuto - foram expostas a níveis perigosos de radiação. Ao mesmo tempo, os efeitos do incidente fizeam-se sentir bemlonge de Chernobyl propriamente dita - por toda a Europa, e em lugares mais distantes, níveis excepcionalmente elevados de radiação foram detectados muito depois da explosão ter ocorrido."

Riscos Ambientais (causas):
Urbanização
Produção industrial
Poluição
Construção de represas e barragens hidroeléctricas
Projectos agrícolas em larga escala
Programas de energia nuclear...
São formas de impacto dos seres humanos sobre o meio natural que causam:
Destruição ambiental
Aquecimento global
Efeito de estufa
Calotes polares derretem
Subida do nível médio das águas do mar
Mudanças nos padrões climáticos:
Cheias
Furacões
Tsunamis
Secas
Pragas de insectos (por ex. gafanhotos)...
Os riscos ambientais têm origem difusa, é difícil determinar a sua causa e os responsáveis bem como as suas consequências e soluções. Por exemplo, as marés negras e a poluição dos rios, causadas pela limpeza de petroleiros ou pela laboração de fábricas junto do leito dos rios, têm consequências nefastas no meio ambiente e na vida de muitas espécies animais. No entanto é difícil identificar os infractores e encontrar uma resposta eficaz para os problemas. O mesmo acontece todos os anos com os incêndios florestais


Riscos de Saúde (causas):
Industrialização
Uso de pesticidas químicos e herbicidas e fertilizantes artificiais na agricultura moderna
Uso de hormonas e antibióticos em muitas espécies animais, destinadas ao consumo humano
Alimentos transgénicos
Conduziram a novos problemas para a saúde que têm vindo a agravar-se,
Podemos concluir que, de facto, vivemos actualmente numa "Sociedade de Risco Global"".

Documento nº 5 - "Ambiente: Riscos e Incertezas" (Parte I)

Uma Verdade Inconveniente:


A globalização tem consequências em praticamente todos os domínios da vida social, muitas difíceis de prever e/ou de controlar.
Muitas das mudanças originadas no processo de globalização levaram a novas formas de risco.
Anthony Giddens (Sociologia, 5ª edição, FKG, Junho de 2007), distingue riscos externos de riscos manufacturados.


Riscos Externos:
Até uma época muito recente as sociedades humanas estavam sob ameaça de riscos externos, isto é, que têm origem no mundo natural e não estão relacionados com a acção do homem:
perigos que advêm das secas,
terramotos,
tempestades,
fome


Riscos Manufacturados:
Riscos que resultam do impacto da acção do nosso saber e da tecnologia sobre o mundo natural.
Hoje em dia somos cada vez mais confrontados com este tipo de riscos manufacturados que são um produto da acção do homem sobre a natureza.
São disso exemplo as ameaças actuais que derivam do meio ambiente
Riscos Ambientais
Riscos de Saúde
etc.


Segundo o sociólogo alemão Ulrich Beck, estamos perante uma sociedade de risco global.

"À medida que as mudanças tecnológicas progridem de uma forma cada vez mais rápida, produzindo novas formas de risco, somos obrigados a ajustar-nos e responder constantemente a essas mudanças. A sociedade de risco, defende o autor, não se limita apenas aos riscos ambientais e de saúde" - inclui toda uma série de mudanças na vida social contemporânea:
Transformações nos padrões de emprego
Um nível cada vez maior de insegurança laboral
Influência decrescente da tradição e dos hábitos enraizados na identidade pessoal
Erosão dos padrões familiares tradicionais, e democratização dos relacionamentos pessoais
O nosso futuro pessoal é hoje em dia muito menos previsível do que se passava nas sociedades tradicionais

Todo o tipo de decisões implicam riscos para os indivíduos. Contrair matrimónio, por exemplo, é hoje em dia uma decisão muito mais arriscada do que antigamente, quando o casamento era uma instituição vitalícia. As decisões quanto às habilitações literárias e a carreira a seguir podem também acarretar riscos - é difícil adivinhar as aptidões que serão valorizadas numa economia que muda de uma forma tão rápida como a nossa.

Documento nº 4 - "Consumo, Sociedade de Consumo e Estilos de Vida" (Parte II)


Correspondem às "práticas quotidianas e formas de consumo que envolvem escolhas particulares e identitárias em domínios tão díspares como a habitação, os usos do corpo, o vestuário, a aparência, os hábitos de trabalho, o lazer, a religião, a arte, a organização do espaço e do tempo ou o convívio com os outro actores sociais".

À semelhança do que referimos relativamente ao consumo e à sociedade de consumo, também os diversos estilos de vida são, na era da globalização, influenciados pelos meios de comunicação de massas "mass- media", como a televisão, a publicidade, os vídeos e o cinema, a internet, bem como pelo marketing, a moda, as viagens de turismo e a emigração, etc.

Os estilos de vida reflectem:
Valores, atitudes e comportamentos individuais e de grupo
Contribuem para a construção das identidades pessoais e colectivas
Influência da classe social e nível económico dos indivíduos
As diferentes condições sociais
etc.

Na actualidade assumem particular relevo, nas sociedades urbanas ocidentais, alguns estilos de vida cujo principal "denominador comum reside na caracterização da dimensão cultural do corpo humano" que passou a ocupar um lugar central nas preocupações quotidianas dos actores sociais.

São disso exemplo:
A actividade desportiva, proliferação de health clubs e ginásios
Alimentação vegetariana, alimentos light, de baixo teor de gordura e açúcares, alimentos biológicos...
Vestuário desportivo e urbano "sportswear e streetwear"
Tatuagens e piercings
O vestuário dos grupos de jovens, as tatuagens e os piercings, representam uma marca identitária e tornam-se sinais exteriores vulgares para largas camadas da população.

Documento nº 4 - "Consumo, Sociedade de Consumo e Estilos de Vida" (Parte I)

Na era do globalismo, ou globalização, os estilos de vida transformam-se, tendem para a homogeneização, para a uniformização, pelos seguintes motivos:
Maior facilidade de circulação de pessoas, bens e capitais entre países
Redução das distâncias geográficas e temporais, É possível contactar, em tempo real, pessoas do outro lado do planeta e trocar informações. É possível deslocar grandes quantidades de mercadorias, de um lado para o outro do planeta, em escassas horas ou dias
Aumenta a importância das grandes empresas transnacionais (que dominam os mercados mundiais...)
Aumentam as grandes superfícies comerciais - paradigma das
sociedades de consumo


São aspectos positivos:
A melhoria das condições materiais de vida e do grau de satisfação das populações que se traduz na possibilidade de adquirir:
Bens alimentares, vestuário, automóveis. Férias e viagens, computadores e utilização de serviços online, aparelhos de áudio e vídeo (e multimédia), e uma multiplicidade de outros artigos, bens e serviços
A publicidade, o marketing e outras técnicas comerciais desempenham, neste contexto, uma importância central.
Combinação entre o consumo e a electrónica. Expansão do comércio electrónico. Há cada vez mais pessoas a fazer compras e pagamentos, inclusive de impostos através da internet. Utiliza-se cada vez mais a internet para efectuar operações bancárias, consultas, transferências, pagamentos, etc.


São aspectos negativos:
O consumo sem regras (consumismo)
Destruição dos recursos naturais
Aumento das diferenças entre países ricos e pobres
Crescimento das desigualdades e exclusão
Deterioração das condições ambientais, poluição dos rios, dos mares e da atmosfera
Aumento da emissão de gases nocivos para a atmosfera

Documento nº 3 - "O Consumo Nosso de Cada Dia..." (Parte III)

A questão que urge colocar é como chegámos a este ponto de perversidade? Como é que chegamos a um ponto em que consideramos mais natural o nosso direito a adquirir produtos, mais ou menos, supérfluos do cosmética do que o direito de milhões de seres vivos a uma vida condigna?

Porque a preponderância do consumo apesar de bastante subliminar não é inocente, bem pelo contrário, o dia 29 de Novembro celebra-se a nível mundial como Buy Nothing Day, ou seja, "Dia sem compras", naquilo que constitui um desafio à abstinência em relação ao consumo por 24 horas, com um propósito global mais amplo que é, precisamente, o de gerar um processo de reflexão colectiva capaz de questionar os modelos de pensamento deshumanizantes e perversos associados ao consumo. Nomeadamente, reflectir sobre a forma despótica e silenciosa como ele se apoderou das nossas vidas e das relações humanas.

Portugal, país onde a proliferação de grandes centros comerciais e afins não para de aumentar, a fúria consumista é particularmente selvagem e alienadora, com os apelos e induções agressivas ao consumo a aumentaram ao mesmo ritmo que as condições sociais se deterioram brutalmente. Por esse motivo, e por todas as questões que lhe estão associadas que urge suscitar, o 29 de Novembro - Dia Sem Compras, pretende ser um ponto de partida para uma sociedade diferente.

Numa época pré-natalícia, em que o aliciamento ao consum(ism)o adquire contornos de verdadeiro fenómeno de psicose colectiva, o que se pretende é lançar bases de reflexão sobre aquilo que nós próprios somos enquanto seres sociais. Será que vamos, em letárgicas visitas aos centros comerciais, continuar a aceitar o papel de meros consumidores, e reduzir toda as nossas dimensões pessoais, sociais, humanas a uma mera escala de bens materiais que nos pretendem fazer crer ser essenciais para a nossa vida e felicidade?

Será que não podemos acreditar que uma sociedade que se designa por "de consumo", ou seja, descartável, despojada de conteúdo, desumana, se torne numa sociedade bem mais igualitária, fraterna e solidária para todos os seres?

(1) Chomsky, Noam. Duas horas de lucidez. Mem Martins, Editorial Inquérito.(2) Baudrillard, J. (1996). A sociedade de consumo. Lisboa, Edições 70.(3) Zanotteli cit. in. Marujo, A. (2003). Missionário "mais incómodo" de Itália quer igreja empenhada contra armamento, Público, nº4671 / 5 de Janeiro de 2003, pp. 21.(4) Ramonet, I. (1998). The politics of hunger. [Em linha]. Disponível em <http://mondediplo.com/1998/11/01leader>. [Consultado em 10/01/2003].

Recolhido em: http://pt.indymedia.org/ler.php?numero=29302&cidade=1

Documento nº 3 - "O Consumo Nosso de Cada Dia..." (Parte II)

O consumo possui hoje, portanto, um significado prático e sociológico primordial em todo um contexto determinado por um liberalismo adoptado à escala mundial: muito para além da sua função "pré-histórica" de satisfação de necessidades essenciais, actualmente, as supostas necessidades dos indivíduos - necessidades desde logo, muitas delas, artificialmente criadas pelos poderosos departamentos de marketing das principais corporações – são o pretexto ideal para reproduzir a disseminar o consumo enquanto instituição teológica, dogma cultural e mecanismo prático de alienação colectiva, mas por via de um crescente processo de feroz competição e estratificação individual materialista.

O consumo surge como conduta activa e colectiva, como coacção e moral, como instituição. Compõe todo um sistema de valores, com tudo o que este termo implica enquanto função de integração do grupo e de controlo social. (2) Num contexto em que os mecanismos susceptíveis de modificar e configurar toda a conjuntura mundial se encontram, de uma forma ou de outra, apropriados por um conjunto restrito de poderosas corporações - detidas por um grupo restrito de indivíduos - e quando os mecanismos democráticos convencionais são cada vez menos representativos e cada vez mais inócuos, numa sociedade que tende para a homogeneização - através desse propósito comum a todos que é o de consumir -, um dos poucos fenómenos que parece, ainda, atribuir alguma importância ao indivíduo comum é, exactamente, o consumo. Enquanto consumidores somos teoricamente bajulados por todo o género de promoções e mimos publicitários.

Aturdidos que estamos nesse "propósito colectivo" e paradoxalmente ferozmente individualizante que é o de consumir, a nossa consciência social, humana e ecológica é, sobremaneira, alienada e as próprias consequências inerentes ao consumo estão muito longe de serem percepcionadas por nós próprios, elos cruciais que somos nas relações existentes entre as deploráveis condições produtivas nos sítios mais remotos do mundo (destruição de habitantes naturais, situações de exploração laboral, mecanismos económicos de neocolonialismo) e as condições de consumo, sobretudo, nos países economicamente mais poderosos, dado que somos nós que adquirimos esses produtos. Mas é importante salientar que também aí, nos países ditos desenvolvidos, existam enormes disparidades sociais e o próprio consumo não decorre de forma homogénea mas sim, e cada vez mais, é ele próprio sintomático da existência de estruturas socais piramidais, com enormes disparidades entre o topo e as bases.

As repercussões de todo o sistema e do próprio consumo ao nível cultural também não são inestimáveis. Toda a nossa paisagem cultural, as cidades, as estradas, as ruas, os meios de comunicação, estão repletas de mensagens publicitárias induzindo mais e mais consumo. Um consumo obstinado, nada ético e que prejudica muito mais a vida e os seres vivos do que é realmente útil. Consumimos mais, muito mais, por consumir do que propriamente por necessitarmos de facto de satisfazer uma qualquer necessidade real, ou pelo menos uma necessidade que nos traga mais do que uma efémera sensação de felicidade.

Na economia mundial, os ricos tornam-se cada vez mais ricos. Vinte por cento do mundo consomem 80 por centro dos recursos - são dados do Banco Mundial. (O mundo) está cada vez mais nas mãos de 300 ou 400 famílias. Três famílias americanas - entre as quais a de Bill Gates - têm o equivalente ao produto nacional bruto, de cada ano, de 48 estados africanos que representam 600 milhões de pessoas. (3)

O que só demonstra esse propósito bem claro que o consumo adquire hoje, ou seja, o consumo do cidadão comum - cada vez mais restringido em termos de escolhas, dado que cada vez menos e mais poderosas corporações controlam cada vez mais sectores da economia - é o tributo que temos de pagar a esses novos senhores feudais globais. Isto os que podem pagar esse tributo mínimo e não se vêm atirados para o lodo da segregação social.

Como se não bastasse, e só para elucidar ainda melhor acerca da natureza doentia do consum(ism)o A ONU calcula que o conjunto das necessidades básicas de alimentação, água potável, educação e cuidados médicos da população mundial poderia ser coberta com uma taxa de menos de 4% sobre a riqueza acumulada das 225 maiores fortunas. Satisfazer os requisitos básicos de água e saneamento de todo o mundo custaria apenas 13 biliões de dólares, sensivelmente, a mesma quantia que a população dos Estados Unidos e da União Europeia despende anualmente em perfume.(4)

Documento nº 3 - "O Consumo Nosso de Cada Dia..." (Parte I)

As grandes firmas de relações públicas, de publicidade, de artes gráficas, de cinema, de televisão ... têm, antes de mais, a função de controlar os espíritos. É necessário criar "necessidades artificiais" e fazer com que as pessoas se dediquem à sua busca, cada um por si, isolados uns dos outros. Os dirigentes dessas empresas têm uma abordagem muito pragmática: "É preciso orientar as pessoas para as coisa superficiais da vida, como o consumo." É preciso criar muros artificias, aprisionar as pessoas, isolá-las umas das outras. (1)

O consumo encontra-se instituído, na sociedade moderna e ocidental em que nos inserimos, como um valor cultural, como um elemento intrínseco aos nossos estilos de vida e que nos caracteriza enquanto indivíduos. Na realidade, eventualmente, os princípios e práticas inerentes ao consumo, toda a sua dimensão sociológica e utilidade prática no seio do modelo ideológico neoliberal, passam ainda despercebidos à generalidade dos indivíduos e possuem uma preponderância crucial mas subliminar, profunda mas sonegada, na forma como os indivíduos se concebem (são concebidos) enquanto seres sociais.

O consumo, por definição, é uma actividade que pressupõe a satisfação - geralmente por intermédio de uma troca financeira - de um conjunto de necessidades, mais ou menos, essenciais dos indivíduos. O cerne da questão é precisamente esse: quem é que determina o que é de facto uma necessidade essencial? Sendo todo o contexto social e cultural fulcral na forma como os seus valores são absorvidos, normalmente de uma forma inconsciente e automática, pela generalidade dos indivíduos, desde logo, pode-se presumir que num contexto de acelerada globalização, em que o "American Way of Life" funciona como modelo cultural, social, económico homogenizador, também os conceitos a ele inerentes, como o do consumo, obedecem à mesma lógica de acentuada "mercantilização" da vida e das relações humanas à escala global.

Ou seja, a utilidade do consumo, numa lógica liberal, está muito longe de se esgotar nessa finalidade "básica" e até "anacrónica" de satisfação de necessidades essenciais à vida humana ou, eventualmente, nem será essa a sua finalidade mais fundamental: um dos principais propósitos do consumo será o de preencher todo o vazio social decorrente da eliminação das formas de socialização e de identidade colectiva anteriores à "revolução" neoliberal. Mais até do que preencher o vazio, a sua utilidade no seio do sociedade global é a de substituir - ele próprio - essas formas, condicionando os indivíduos no sentido de participarem socialmente de uma maneira extremamente conveniente para toda a dinâmica do sistema. Esse condicionamento só é possível através de diversos mecanismos de comunicação e condicionamento de massas de entre os quais a publicidade será o mais significativo.

Por outras palavras, tão precário e volátil que o emprego se tornou, tendo a componente produtiva das empresas sido deslocada para países de 3ªmundo, tendo a vida social, cultural e colectiva sido esvaziada de conteúdo por um paradigma de pensamento essencialmente economicista, nomeadamente seguindopressupostos de apropriação individual de bens materiais, resta ao indivíduo essa função de consumidor. O consumo enquanto princípio existencial, valor de pensamento e projecto de vida. O consumo enquanto meio e fim. Do ponto de vista económico, é um consumo ilimitado que permite manter as taxas de crescimento económico que se encontram na base de todo o sistema financeiro especulativo mundial, isto ao mesmo tempo que os recursos são cada vez mais escassos.

Documento nº 2 - "A Globalização e Seus Efeitos Culturais" (Parte III)

A Questão do Outro:
As pessoas têm uma necessidade premente de pertença/reconhecimento em relação à comunidade ou grupo social no qual estão inseridas. Nesse sentido, a sua organização em torno de projectos comuns, sobretudo projectos culturais, onde os indivíduos compartilham não só o mesmo território, mas seus interesses, suas necessidades, enfim desejos comuns é que se constitui neste processo de formação de identidade individual e colectiva.Uma identidade cultural constitui-se como síntese da construção de múltiplos significados distintivos, fruto de complexas interacções sociais que desenvolvem internamente cada grupo e em suas relações com outros, mediante as quais seus membros se unificam e se diferenciam dos demais. E, além de proporcionar elementos concretos de referência e comparação, resume o universo simbólico que caracteriza a colectividade, porque estabelecem padrões singulares de interpretação da realidade, códigos de vida e pensamento que permeiam as diversas formas de manifestação, valores e sentidos. Isso requer um sentido de pertença como forma de inscrição no universo simbólico de uma dada colectividade. Essa pertença é o elemento aglutinador e mobilizador de actividades e constitui um gerador de valores e de coesão para o grupo.Como já referimos, num processo de constituição de identidades através de projectos culturais, as pessoas organizam-se em redes alternativas ou redes de solidariedade social, como forma de se garantirem perante as relações sociais assimétricas e na direcção da constituição da sua identidade e acesso à cidadania. Ora esta noção de identidade aqui utilizada aqui compreende, primeiro, que a mesma é múltipla, formada por várias facetas que podem reflectir práticas religiosas, étnicas, de género, de sexualidade, entre outras, e que conferem ao indivíduo diferentes posicionamentos na sociedade.Considerando a identidade como múltipla e dinâmica, torna-se impossível ver uma dada religião, ou uma comunidade religiosa, como um conjunto homogeneamente constituído, porque ela encontra-se em contínua transformação.

Documento nº 2 - "A Globalização e Seus Efeitos Culturais" (Parte II)

O surgimento das sociedades modernas transfere as relações sociais para um território mais amplo onde as fronteiras desaparecem e, ao mesmo tempo, colocam à disposição das colectividades um conjunto de referências resultado da mundialização da cultura. Cada grupo social, na elaboração de suas identidades colectivas, irá apropriar-se destas das mais variadas maneiras. A sociedade global, longe de incentivar a igualdade das identidades, está marcada por uma hierarquia clara e injusta. As identidades são diferentes e desiguais porque as instâncias que as constroem têm distintas posições de poder e de legitimidade.

Hoje em dia, os processos de constituição de identidades dão-se através de projectos culturais onde as pessoas têm vindo a organizar-se em redes alternativas ou redes de solidariedade social, como forma de se garantirem perante as relações sociais assimétricas e tomarem a direcção da constituição da sua identidade e o acesso à cidadania.O ponto mais significativo deste processo reside na questão da constituição/construção das identidades das pessoas.

Documento nº 2 - "A Globalização e Seus Efeitos Culturais" (Parte I)

“... a cultura não é apenas o lugar onde se sabe que dois mais dois são quatro. É também a indecisa posição em que se procura imaginar o que é possível fazer com números não muito claros, cuja potência acumulativa e expressiva ainda se está tentando descobrir. Há um sector da cultura que produz conhecimento em nome dos quais é possível afirmar com certeza... o que efectivamente dá dois mais dois: trata-se do saber que possibilita entender o ‘real’ com alguma objectividade, desenvolver tecnologias de comunicação globalizadas, medir o consumo das indústrias culturais e conceber programas mediáticos que ampliem o conhecimento em massa e criem consenso social. Outra parte da cultura, desde a modernidade, se desenvolve em função da insatisfação com a desordem, e às vezes com a ordem, do mundo: além de conhecer e planejar, interessa transformar e inovar.”


Grandes debates marcam hoje o campo da ciência, e mais particularmente das ciências humanas e sociais.O desenvolvimento tecnológico, as novas tecnologias e seus significados éticos e sociais; a globalização da economia e da cultura e as intersecções global / local, com o reaparecimento dos grupos étnicos, o fortalecimento de fundamentalismos de várias ordens, a organização e luta das minorias oprimidas; a diluição das fronteiras e a reconfiguração dos grupos de pertença e os sentimentos identitários; a homogeneização e instantaneidade da informação concomitante à proliferação das formas comunicativas; a individualização da sociedade e personalização dos interesses, aliadas à busca das vivências em grupo e reactivação dos laços comunitários; a presentificação da temporalidade contemporânea e o obscurecimento da ideia de futuro são temáticas que, acolhendo contradições e marcando a diversidade desafiadora do contemporâneo, instigam o trabalho do conhecimento.

Hoje, a globalização, os avanços tecnológicos e os efeitos sobre o trabalho, a constituição da sociedade informacional, a ocidentalização da cultura e super exposição dos média são processos contemporâneos que produzem mudanças nos modos de estar e sentir-se juntos, desarticulam formas tradicionais de coesão e a modificam modelos de sociabilidade.

Com frequência temos acompanhado um certo repúdio à globalização que surge da preocupação de que as culturas locais sejam suprimidas pelos valores ocidentais associados à expansão das políticas de mercado.

A globalização é percebida como uma imposição de uma forma estranha de vida e nos coloca como impotentes por não termos nenhuma voz nas decisões sobre políticas. A globalização aumenta o potencial de tensões sociais. Por outro lado, a globalização pode também despertar um sentimento contraditório de potencial diante de novas formas de exercer a liberdade e a responsabilidade para melhorar as condições materiais de vida. Para, além disso, temos a consciência de que, com este potencial, emerge na vida quotidiana algo assim como uma identidade global, que coexiste de alguma maneira com a cultura local. Daí, a necessidade de entender a globalização em relação às culturas locais.

A cultura encontra-se no centro dos debates contemporâneos sobre a identidade, a coesão social e o desenvolvimento de uma economia fundada no saber que tem levantado algumas questões: quem há-de garantir a vitalidade do debate e o diálogo público que condicionam a criatividade colectiva e a vitalidade cultural; como combinar a universalidade dos direitos com o reconhecimento dos interesses sociais e os valores culturais particulares; e, como pensar os direitos culturais e a preservação e consolidação da diversidade cultural como parte inseparável da consolidação dos direitos políticos, económicos e humanos?

Responder a estas questões requer um olhar multifacetado, uma perspectiva que promova não apenas a união de fronteiras do conhecimento, mas que seja capaz de articular um rompimento das mesmas e ampliá-las, propiciando o diálogo.

Documento nº 1 - "O Fenómeno da Globalização"


É de todos conhecido o fenómeno da globalização da economia mundial. O fenómeno tem por base a crescente integração das economias que operam nos diversos territórios mundiais, o comércio mundial de bens e factores de produção, a internacionalização das empresas, que são cada vez mais multinacionais, e a consequente diluição da identidade nacional e/ou operativa das mesmas. O fenómeno não tem sido isento de sobressaltos, dadas as implicações sociais e ambientais negativas que tem tido nos diversos territórios mundiais e dada a ausência de regulação política mundial do mesmo. A referida regulação é ainda muito baseada na lógica dos Estados Nação e dos respectivos egoísmos. O fenómeno exige regulação mundial efectiva e democrática, regulação que resulte da concertação das vontades dos cidadãos das diferentes regiões do mundo e/ou dos Estados que deles devem emanar.
O fenómeno da globalização:
Basta entrarmos num centro comercial ou num hiper-mercado para facilmente constatarmos o fenómeno da globalização. No caso dos centros comerciais é possível verificarmos que existem as mesmas lojas em praticamente todos. A maior parte destas lojas são exploradas em regime de Franchising o que determina que todas elas tenham os mesmos padrões de gestão e de qualidade.
Se entrarmos no MacDonalds, Zara, Bennetton, Mango, do Centro Comercial Colombo, por exemplo, verificamos que vendem os mesmos produtos, com a mesma apresentação, a mesma qualidade e fabricados nos mesmos locais, dos produtos comercializados nas mesmas lojas de outros centros comerciais, no país ou no estrangeiro. Constatamos também que os estabelecimentos e a organização são idênticos. São empresas globalizadas, são multinacionais. Os produtos que comercializam, são produzidos em países distantes onde a mão de obra é mais barata. O desenvolvimento das tecnologias de informação, dos transportes e das telecomunicações facilitaram a aproximação das pessoas e diminuíram as distâncias. Este desenvolvimento permite que, na actualidade, todo o planeta possa assistir, em directo, aos mesmos eventos, como aconteceu, por exemplo, com a guerra no Iraque. O desenvolvimento dos transportes permitiu encurtar distâncias; os trabalhadores podem percorrer distâncias cada vez maiores para ir trabalhar, demorando menos tempo. Torna-se cada vez mais fácil deslocar de um lado para o outro do planeta grandes quantidades de mercadorias em escassas horas, ou dias.
Nos Super-mercados é possível vermos frutas e outros alimentos e produtos que tiveram de percorrer milhares de km. Todas estas mudanças estão a reflectir-se nos estilos de vida, nos hábitos e padrões de consumo dos povos e estão a ter consequências para o ambiente e a contribuir para o aparecimento de novos riscos e incertezas. Assistimos à tendência para a uniformização dos padrões de consumo a nível planetário. A globalização está a alterar os estilos de vida dos povos.
Globalização:
O termo globalização surge nos anos 80 do século XX, nas escolas de administração de empresas dos EUA (Harvard, Columbia, Stanford, etc.) e referia-se às oportunidades de negócio proporcionadas pelo desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, da informática e pela desregulamentação e liberalização dos mercados económicos e financeiros.
A globalização é apresentada como um fenómeno inevitável, necessário e benéfico, a que todos tinham de se adaptar. O desenvolvimento tecnológico da década de 80, do século XX, nos domínios da microelectrónica revolucionou as telecomunicações e o sistema produtivo mundial. Todos os mercados mundiais passaram a estar instantaneamente interligados. Os problemas internos de um país afectam a estabilidade económica dos outros países, devido à crescente interdependência.
As facilidades criadas pelo desenvolvimento tecnológico, no domínio das telecomunicações, possibilitou um maior controlo e influência dos países industrializados sobre os demais, inclusive em termos culturais, padrões de consumo e estilos de vida. As empresas transnacionais assumem um papel preponderante como agentes das relações internacionais desde a década de 70, do século XX. Chegam a negociar com os governos nacionais a sua localização. Causam graves problemas sociais quando decidem deslocalizar as suas actividades.
Desenvolve-se o mercado internacional de capitais e a importância das bolsas de valores. Surgem novos centros económicos com o desenvolvimento dos novos países industrializados do sudoeste Asiático. O cenário económico internacional passa a ser dominado pelas empresas transnacionais que fazem parte da "tríade" EUA, Europa (especialmente a Alemanha) e o Japão.
Como forma de melhor competir nesta nova ordem económica internacional, formam-se ou aprofundam-se zonas de integração económica (tratados económicos regionais: zonas de comércio livre, união aduaneira, mercado comum, união económica e monetária).
São exemplos de integração económica:
U.E. União Europeia; ASEAN – Associação de Nações do Sudeste Asiático
NAFTA – Acordo de Livre Comércio da América do Norte; APEC - Cooperação Económica da Ásia e do Pacífico
MERCOSUL – Mercado Comum do Sul; CARICOM – Mercado Comum e Comunidade do Caribe; CEI - Comunidade de Estados Independentes;
SADC – Comunidade da África Meridional para o Desenvolvimento

Mapa Síntese do Módulo S4 - "Sociedade Contemporânea"

O estudo iniciar-se-á pela análise das várias dimensões da globalização, na medida em que este fenómeno tem repercussões na vida social, nomeadamente ao nível dos estilos de vida, da organização do espaço e do ambiente.

Por outro lado, também se pretende que os alunos reconheçam as transformações que têm ocorrido na estruturação do espaço nas sociedades contemporâneas, onde, contrariamente ao que acontecia nas sociedades tradicionais, a maior parte da população vive em zonas urbanas.

Assim, partindo da realidade portuguesa, poderão evidenciar-se factores que estiveram na origem do crescimento das cidades e analisar as suas características, bem como alguns dos problemas que, actualmente, emergem nos grandes centros urbanos.

Neste módulo, tal como já foi referido anteriormente, pretende-se que os alunos realizem um pequeno trabalho de pesquisa que assumirá a forma de trabalho de grupo, orientado pelo professor, sobre um tema, no âmbito da sociedade portuguesa contemporânea, escolhido pelos alunos de acordo com os seus interesses vocacionais e relacionado com a família profissional em que o curso se insere.

Objectivos de Aprendizagem:

Relacionar a globalização com os novos estilos de vida.
Referir consequências da urbanização.
Caracterizar grupos sociais vulneráveis no espaço urbano.
Relacionar a globalização com os problemas ambientais.
Inventariar riscos e incertezas da sociedade actual.
Aplicar conhecimentos e competências, anteriormente adquiridos, na análise da sociedade
portuguesa.

Âmbito dos Conteúdos:

O fenómeno da globalização:
Económica – aceleração das trocas e dos movimentos da população
Cultural – papel dos meios de comunicação social e aculturação


Consumo e estilos de vida:
Consumos e padrões de consumo
Conceito de estilo de vida
Globalização e estilos de vida:
Uniformização dos padrões de consumo
Novos estilos de vida: exemplos

O fenómeno da urbanização:
Conceito de urbanização
Factores de crescimento urbano: migrações e concentração das actividades económicas (terciarização)
Consequências da urbanização (suburbanização e grupos vulneráveis)


Sociedade e ambiente:
Problemas ambientais (delapidação dos recursos naturais e poluição)
Padrões de consumo e problemas ambientais
Globalização e problemas ambientais
Riscos e incertezas da sociedade actual


Situações de Aprendizagem / Avaliação:

Para introduzir o tema da globalização orientar os alunos na realização de um levantamento sobre a origem: dos bens de uma loja de “produtos de baixo preço” ou de um supermercado;
das peças constitutivas de um determinado bem (por exemplo, automóvel ou motocicleta).

Incentivar os alunos a inventariar casos concretos que na sua localidade/região ponham em risco o ambiente e divulgar essas informações à comunidade educativa.

Também se poderá simular a apresentação, discussão e aprovação de uma lei portuguesa, por
exemplo, sobre a racionalização do consumo de água no território português ou sobre o aumento da produção de energias alternativas. Desta forma, recorrendo a um jogo de papéis, em que os alunos argumentem a favor e contra a aprovação dessa lei, poder-se-ão problematizar riscos ambientais das sociedades actuais.

Realizar, sob a orientação do professor, um pequeno trabalho de pesquisa em grupo sobre um tema, no âmbito da sociedade portuguesa contemporânea, preferencialmente os que estão inseridos no programa, em especial nos módulos S2, S3 e S4, escolhido pelos alunos de acordo com a família profissional em que o curso se insere e os seus interesses vocacionais.

Esse trabalho, para além de mobilizar os conhecimentos teóricos adquiridos, tem por objectivo: a aplicação de uma ou duas técnicas utilizadas pela Sociologia, por forma a recolher informação, a qual será seleccionada e tratada, de modo a permitir a apresentação de conclusões e posterior debate.

Filmes:

Beleza Americana, de Sam Mendes, 1998,113 minutos
Filme terrivelmente lúcido e crítico sobre o american way of life de uma família que começa a desmoronar-se quando o marido, Lester Burnham (Kevin Spacey), na crise da meia idade, explica à mulher Carolyne (Annette Bening) que decidiu deixar o emprego e que quer mudar de vida.



Erin Brockovich, de Steven Soderbergh, 2000, 132m
Este filme é um drama legal baseado na história verídica de Erin Brockovich (Julia Roberts) que ajudou a revelar e a condenar o envenenamento da água da sua cidade provocado por uma grande companhia americana.

Terminal, de Steven Spilberg, 2003, 104 m
Neste filme, Viktor Navorski (Tom Hanks) fica retido no aeroporto de Kennedy em Nova York porque o seu passaporte já não é válido devido ao facto de no seu país de origem ter havido um golpe de estado. Exilado no terminal do aeroporto, encontra ajuda na hospedeira Amelia (Catherine Zeta-Jones) e no pessoal que ali trabalha, acabando por conhecer e aceitar todas as suas hierarquias, modos de vida e culturas.





Módulo S4

Módulo S4 - "Sociedade Contemporânea"

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Documento nº 9 - "3.2 Como promover a participação equilibrada das mulheres e dos homens na vida familiar? A familia como motor da igualdade"


Documento nº 8 - "Organização"



Documento nº 7 - "As Organizações"


O que é uma Organização?

- Uma organização é uma combinação de esforços individuais que tem por finalidade realizar propósitos colectivos. Por meio de uma organização torna-se possível perseguir e alcançar objectivos que seriam inatingíveis para uma pessoa. Uma grande empresa ou uma pequena oficina, um laboratório ou o corpo de bombeiros, um hospital ou uma escola são todos exemplos de organizações."


- Uma organização é formada pela soma de pessoas, máquinas e outros equipamentos, recursos financeiros e outros.

- A organização então é o resultado da combinação de todos estes elementos orientados a um objectivo comum.

- A qualidade é o resultado de um trabalho de organização.

MAXIMIANO, ANTONIO CESAR A. Introdução a administração. 3ª ed., São Paulo, Editora Atlas, 1992.

Documento nº6 – "Novas funções da escola – educação e formação ao longo da vida"

Mercado de emprego, carreira e aprendizagem ao longo da vida, surge na sequência da minha experiência profissional enquanto psicóloga, nos centros de emprego da área metropolitana do Porto, mais especificamente na constatação da dificuldade de os jovens adultos se inserirem no mercado de trabalho.
Procura-se desta forma criar um espaço de reflexão, no sentido de desocultar as razões subjacentes a estas dificuldades, aceder à relação dialéctica que se estabelece entre sociedade, contexto de formação e contexto de trabalho e delinear estratégias que facilitem esta transição de vida.
De facto, o que pude constatar é que os jovens adultos apresentam dificuldades ao nível das competências que se adquirem no exterior das estruturas de formação inicial, nomeadamente nas empresas e que são constituídas pela aptidão individual subjectiva para utilizar as suas qualificações, os seus saberes-fazer. Em suma, tratam-se das competências generalizáveis e transferíveis, sobremaneira valorizadas actualmente, as quais, não se revestindo de um carácter objectivo, tornam inviável a sua definição independentemente dos indivíduos em questão, pelo que não se poderá falar de competências em si, mas somente de pessoas competentes.
De facto, de acordo com o quadro actual, o que se verifica é que, para além dos conhecimentos técnicos e da experiência, os empregadores valorizam toda uma panóplia de competências transversais, entre as quais se destacam: as competências de comunicação; as competências interpessoais; as competências de raciocínio e de iniciativa; o dinamismo; a curiosidade; a flexibilidade; o saber transferir, inovando e não se limitando a repetir; a responsabilidade; o sentido de disciplina pessoal; a liderança; espírito de profissionalismo; a auto-estima; a motivação; a capacidade de atingir objectivos e desenvolvimento pessoal; ser honesto e íntegro; demonstrar auto-controle e capacidade de adaptação a novas situações. É nesta perspectiva que se poderá afirmar que a competência profissional como conceito global evoluiu do simples somatório de saberes e saberes-fazer, para uma noção mais abrangente de saber agir e reagir face a uma situação profissional complexa.
Torna-se, no entanto, importante compreender que esta situação nada mais é do que um “ponto de chegada”, que tem a sua génese nas profundas mutações que se têm vindo a operar na sociedade actual.
O cenário actual caracteriza-se pela invasão das tecnologias da informação. As consequências são óbvias: a brevidade do ciclo dos produtos, a diversificação das exigências de consumo, o reforço da competitividade nacional e internacional, a globalização da economia, a explosão das fontes de saber e dos meios para lhe aceder, bem como velocidade a que se alteram as imagens do mundo.
Assim, enquanto que nas sociedades tradicionais (que se caracterizam por um número restrito de papéis, predominando as normas particulares), a família assume um papel de relevo ao nível da formação da criança, na sociedade moderna, onde predominam as normas universalistas, a aceleração do movimento técnico exige uma educação permanente e provoca um hiato entre o indivíduo e o mundo que o rodeia, pelo que muda a função institucional da família, cabendo à escola essa mesma tarefa.
Para fazer face a esta situação, assiste-se ao prolongamento da escolaridade obrigatória e de outros percursos de formação complementares e à sua diversificação, o que configura uma situação de transição distinta das situações “típicas” de mudança da escola para o mercado de emprego, na medida em que os jovens são como que “forçados” a permanecer fora do mercado do emprego, sendo o seu espaço de vida organizado sobretudo em torno dos grupos de amigos e dos dispositivos de lazer (Castro e Pego, 1996), que constituem sem dúvida alguma contextos de aprendizagem importantes.
Mais ainda, o que actualmente se constata é que a articulação entre a educação e o emprego são marcados sobretudo pela não correspondência, isto por que este último se caracteriza por reorganizações contínuas das empresas, pela precarização dos laços contratuais, por elevados índices de desemprego (Castro, 1997), em que já não se torna suficiente a posse de um bom “nível” de formação técnica e profissional (qualificação inicial), assumindo esta cada vez mais um carácter transitório. Esta situação vem claramente contrariar a convicção de muitos jovens, que equacionam o estágio enquanto “momento decisivo” e ressalta concomitantemente a premência da aprendizagem ao longo da vida.
É nesta perspectiva que os jovens terão que fazer face a um período de transição, em geral turbulento, marcados por percursos profissionais imprevisíveis, onde a incerteza e a instabilidade, em suma, a insegurança, tornam inviável a definição de um alvo profissional em função de certas coordenadas de tiro, aquilo que se poderia designar como a “perspectiva balística da carreira” (Azevedo, 1997). Assim, esta não poderá ser equacionada como um percurso em linha recta, com uma lógica de evolução regular e hierárquica, com etapas claras, interligando a escola, o trabalho e o sujeito. Não se trata da concretização de um projecto, mas antes de um conjunto de micro-projectos, assumindo, assim, um sentido mais personalizado, afigurando-se como um percurso, uma história, pautada por descontinuidades que obrigam a tomadas de decisão do indivíduo (Castro, 1997). Assim, as mudanças ao nível dos “mapas (cartas) das oportunidades” (Castro, 1997), justifica o facto de a configuração emergente assumir um carácter mais artístico, como um “voo de borboleta” (Azevedo, 1997).
Vivemos, de facto, um tempo de transição, vulgarmente denominado de “crise” em que os receios são muitos e as certezas muito poucas, sendo que este parece ser o momento ideal para o lançamento de novas construções, mais especificamente ao nível da reconstrução da relação do indivíduo com o mundo do trabalho. Estas situações, essencialmente desafiantes, e para as quais nem sempre o indivíduo está preparado é que se perspectivam como verdadeiras transições de vida que, constituem um momento privilegiado de gestão da carreira, e que, por isso mesmo, não deverão ser deixados ao acaso. Por outras palavras, o que até aqui se pretendeu dizer é que a situação de transição profissional é permanente, não se confinando à transição inicial escola-trabalho (Azevedo, 1997), sendo que a evolução profissional se realiza num estado de questionamento permanente, ou no seio de uma instabilidade que se poderá qualificar de omnipresente. (Riverin Simard, 1996).
De qualquer forma, e apesar das incertezas e da impossibilidade de “a priori” definir um alvo profissional, uma reflexão cuidadosa reenvia para aquele que foi o “ponto de chegada”, pelo facto de, apesar de tudo, se ter alcançado “qualquer coisa”, que “a posteriori” se tornou um alvo - as competências, a experiência profissional e a aprendizagem ao longo da vida, que exigem novos dispositivos de certificação e validação dos saberes adquiridos, assumindo especial relevo as práticas do balanço de competências (Castro, 1997). Assim, cada jovem à entrada da vida socio-profissional deverá demonstrar disponibilidade para construir progressiva e lentamente o seu “mapa de experiências e de competências”, sendo que a necessidade de reunir evidências das competências e saberes adquiridos nos aproximam daquilo que Hardy denominou “sociedade do dossier”, que se reporta à “carteira/arca de competências” por oposição à “civilização do diploma” (Castro, 1997).
Depois de tudo o que foi dito, compreende-se que o conceito de segurança para quem trabalha terá de ser desenvolvido e alargado, incidindo mais na segurança baseada nas competências e no mercado de trabalho, do que na segurança do posto de trabalho individual, afigurando-se pois uma segurança na mudança, mais do que uma segurança contra a mudança (Castro, 1997). Deste modo, a produção de uma espécie de “nova cartografia das oportunidades” de profissionalização que auxilie os indivíduos na exploração das novas e diversas formas de desenvolvimento pessoal e profissional assume relevância (Castro, 1997).
É precisamente nesta perspectiva que a formação profissional se encontra numa primeira linha de prioridade em termos gerais e, em particular, no que concerne ao domínio da transição do contexto de formação para o de trabalho. De facto, este afigura-se como um acontecimento de vida normativo e, portanto, altamente previsível. Assim, a tarefa de proporcionar uma vivência mais adaptativa desta transição implica criar condições nas quais os sujeitos possam adquirir competências em áreas problemáticas, em ordem a estarem mais aptos a lidar com este acontecimento de vida aquando da sua ocorrência.
Conclui-se portanto que num cenário onde a única realidade verdadeiramente estável é a mudança, a segurança face ao trabalho terá que se alicerçar nas competências transversais e na aprendizagem ao longo da vida, constituindo-se assim a formação profissional como um recurso basilar do desenvolvimento humano.

Documento nº 5 - "O Retorno da Desigualdade "

Por FÁTIMA BONIFÁCIOPÚBLICO, Quinta-feira, 16 de Dezembro de 2004
Várias décadas de inovação pedagógica e transformação social conseguiram produzir o fracasso educativo que está hoje à vista de todos e que ninguém se atreve a negar. Esse fracasso educativo traduz-se no escandaloso número de chumbos que se verificam nos exames nacionais do 12.º ano; na péssima prestação em disciplinas básicas como o Português e a Matemática; na alarmante taxa de abandono escolar; e na lamentável ignorância da maior parte dos alunos que ingressam no ensino superior e que ou desistem do curso a meio do caminho ou saem de lá quase tão incultos como entraram. Esta realidade tem de ser invertida e não tenho dúvidas de que será invertida - mas temo que isso venha a acontecer por formas e vias que, subvertendo radicalmente os objectivos que presidiram à criação da escola pública universal, farão dela um lugar de aprofundamento e cristalização das desigualdades sociais de origem dos que a frequentam. Actualmente, a escola pública já caminha a passos largos para se tornar num factor de discriminação social.
A transformação social que ocorreu nas últimas décadas era inevitável e desejável. Centenas de milhares de jovens invadiram o sistema de ensino em pouco mais de uma geração; a explosão repercutiu-se no ensino superior, que passou de 40.000 alunos no início da década de setenta para 400.000 na actualidade. Este facto, em princípio positivo, criou dificuldades acrescidas à observância de níveis de exigência imprescindíveis para que a escola cumpra eficazmente a sua função de ensinar e qualificar. De repente, a escola confrontou-se com um universo de alunos em cujas casas nunca existiram livros e cujos pais não sabem falar português. Esta carência cultural de origem produz mais e mais graves consequências do que a mera dificuldade em ensinar a língua, a matemática ou outra disciplina qualquer: conduz à percepção da escola antes de mais como um instrumento de integração e ascensão social, em lugar de ser prioritariamente encarada como um meio de desenvolvimento intelectual. Este facto é particularmente nítido na Universidade. Ter um filho doutor ou ser sr. doutor converteu-se na ambição suprema de milhares de pais e alunos. O grau académico é visto em primeiro lugar como uma promoção social, e só muito secundariamente, e raramente, como o atestado de uma qualificação intelectual. Por isso a maioria dos estudantes não acha que seja preciso estudar, acha que basta passar.
Coincidiu tudo isto com um processo de declínio da autoridade em geral que não apenas não favorece uma relação professor-aluno propícia à aprendizagem, como criou gravíssimos problemas de disciplina que prejudicam irremediavelmente a escola como um lugar de estudo, esforço e aplicação. Desapareceu o respeito - sim, o respeito - indispensável para que a palavra do professor seja escutada com a devida consideração. Muitos professores, é preciso dizê-lo, também não fazem muito para merecer essa deferência; o laxismo contaminou uma parte da classe. Depois, a escola tornou-se palco quotidiano de desmandos, desacatos e até agressões não raro dirigidas contra os próprios docentes. Outro resultado não seria de esperar da implementação de um conceito de "comunidade educativa" em que os alunos são convidados a participar, em pé de igualdade, na vida escolar, à semelhança da "polis" idealizada no "Contrato Social" em que todos mandam e portanto ninguém obedece senão a si mesmo.
Mas a crise da autoridade do professor não resulta só do lunatismo de quem quereria moldar a escola à semelhança de uma democracia radical; nem resulta apenas da rebeldia e má educação de jovens pouco ou nada predispostos para olhar o professor como alguém a quem é devida uma deferência particular ou para respeitar a sala de aula como um espaço onde se exige silêncio e concentração. Ela resulta também de um efeito de erosão provocado por duas décadas de relativismo cultural agressivo que rebaixou a palavra do professor ao nível de uma opinião como outra qualquer, nem mais nem menos válida do que "os saberes" ou as "competências" que os alunos adquirem na sua experiência quotidiana de vida e que a escola democrática acarinha e valoriza com o objectivo de fazer toda a gente sentir-se igual - os que leram Eça de Queiroz e os que leram o Harry Potter.
Depois, o ambiente cultural mais amplo em que a escola se insere também lhe é adverso. A cultura juvenil privilegia o prazer e o lazer em detrimento do esforço e do estudo, e a leitura é considerada uma prática obsoleta quando se pode procurar tudo na Internet. Além disso e de um modo geral, a cultura difusa na sociedade valoriza a sensibilidade e a intuição espontâneas em detrimento de uma racionalidade crítica informada. Hoje em dia toda a gente tem direito a achar... porque acha ou porque sente, e de um modo geral todas as opiniões se equivalem e devem ser respeitadas - mesmo que não sejam respeitáveis. Finalmente, a palavra do professor, veículo de verdades relativas e no limite arbitrárias, incorre ainda na desconfiança que envolve a escola como aparelho de reprodução da ideologia dominante. É certo que esta formulação tosca e brutal caiu um pouco em desuso, mas não assim o seu sentido e os pressupostos que lhe subjazem. A presunção de que nem todos os "saberes" são válidos porque não resistem a um teste de consistência intelectual é considerada uma ideia reaccionária porque contrária à suposta igualdade das pessoas e das culturas.

A escola deixou de poder exigir a fim de poder integrar, e por isso nivela por baixo. Este projecto pedagógico é, na realidade, um projecto político e social. Aprender, adquirir conhecimentos, tornou-se um objectivo secundário ou em todo o caso subordinado ao fim principal de conferir um grau académico que funciona como um passaporte para a inclusão social. A escola deixou de ser um projecto intelectual e tornou-se no instrumento de uma política social. O resultado está à vista e, inevitavelmente, já surgiu a reacção. Quem pode coloca os filhos em escolas privadas, onde mais disciplina e mais exigência produzem alunos mais bem preparados. A contínua degradação do ensino público criou um mercado para o ensino privado, a que só os mais abastados têm acesso. Não virá longe o tempo em que o que importa não é o grau académico, que mesmo os piores alunos poderão exibir, mas sim o estabelecimento de ensino onde foi adquirido. Nesta competição, os ricos estarão de novo em vantagem. Ao nível do secundário, a tendência já está instalada. Ao nível do superior, a Universidade Católica constitui um exemplo de como as universidades privadas se podem instalar entre as melhores ou acima da maior parte das públicas. Desprestigiada e degradada, a Escola Pública Universal converte-se fatalmente num factor de desigualdade.
*Historiadora

Documento nº 4 - "A passagem da massificação das escolas para individualização"

A escolaridade, enquanto sistema dirigido às massas, foi criado para corresponder às necessidades de massificação da educação criadas pela Sociedade Industrial. No limiar do século XXI, todos os pressupostos que estiveram na base da sua criação já não se mantêm. À medida que as economias transitam de lógicas industriais para lógica do saber, as necessidades passam a ter como referência a obtenção de “trabalhadores do saber”.
Por outro lado, pretende-se que a educação deixe de ser um acto isolado na sociedade e passe a ser uma actividade social plenamente integrada.
A sociedade contemporânea já tomou plena consciência das mutações que nela se operam, do ritmo sem precedentes na transmissão e produção de informações, das suas implicações no sistema de valores vigente e das questões pertinentes que se levantam.
A nova “Sociedade de Informação e Comunicação” parece assumir em todas as suas componentes a mudança, os ajustamentos e adequações que necessariamente teriam de surgir, nomeadamente na área da educação, resultantes da existência de toda uma multiplicidade de informação digital (COLLINS, HAMMOND e WELLINGTON, 1997).
Os conhecimentos adquiridos nas escolas representam uma parcela cada vez menor da aprendizagem que se adquire no dia-a-dia e ao longo da vida. Cresce cada vez mais o hábito de os pais colocarem os seus filhos, fora das horas de escolaridade obrigatória, em instituições de ensino paralelas às escolas oficiais onde é possível a aquisição de competências em áreas tão diversas como música, dança, línguas, desportos, informática, entre outras.
O aparecimento e difusão das novas tecnologias de informação e comunicação e as potencialidades de interacção através de redes de dados deixam antever um cenário quase infinito de oportunidades de auto-educação e de educação à distância, não só na idade escolar, mas ao longo de toda a vida. Actualmente, cada vez mais jovens e adultos exigem maior variedade de canais de aprendizagem.
As escolas ditas tradicionais não estão devidamente equipadas para fazer face a este desafio. A passagem da massificação das escolas para individualização da escolha livre, nomeadamente através das redes de dados, tenderá a retirar parte da importância às escolas e a colocá-la na casa de cada um.
Este cenário não retira importância ao papel que a escola pode vir a desempenhar no futuro. A enorme variedade de escolha, a agressividade crescente da oferta e a frieza das altas tecnologias podem mergulhar os cidadãos em geral, e as crianças e jovens em particular, em estados de ansiedade e dissonância.
Uma sociedade altamente tecnológica exige compensações ao nível dos valores humanos e da afectividade, algo que pode ser difícil de encontrar. É aqui que pode estar a importância de uma escola que tem que se reinventar: dar estrutura a um mundo de diversidade, contextualizar os saberes de base para uma autonomia de sucesso e fornecer as respostas humanas compensatórias (Gates, 1995).
A escola deverá assumir a liderança das mudanças estruturais, adequando as suas estratégias à nova realidade, modificando as pedagogias de actuação face ao novo saber tecnológico. Deve assumir-se como um veículo de educação, que instrui e forma, visando a autonomia, realização pessoal e social, o aprofundamento dos saberes, instrumentos e metodologias e a preparação intelectual e afectiva dos jovens para o desempenho dos seus papéis em sociedade (LBSE, 1986).
Na actualidade, o professor está inserido num contexto onde se produzem mudanças substanciais na prática docente. As novas tecnologias apresentam-se como recursos facilitadores de um processo de ensino/aprendizagem mais dinâmico, instrumental e socializador, de acordo com as competências a adquirir pelos alunos.
O professor pode ser o responsável para que a introdução das TIC nas salas de aula se faça de forma eficiente e eficaz. Para tal, deverá saber sintonizar-se com a sua época tecnológica e utilizar adequadamente os recursos tecnológicos segundo o nível, contexto e conteúdo a apresentar em momentos específicos. Deverá ainda possuir conhecimentos, destrezas e capacidades para desenvolver eficientemente as suas funções.
A utilização das TIC provoca uma forte tendência para a individualização da aprendizagem e controlo por parte do utilizador, seja aluno ou professor. Torna-se necessário dar um enquadramento pedagógico no recurso a estes meios. A questão essencial não reside na tecnologia por si só, mas na sua interacção com o processo de ensino/aprendizagem e no seu papel dentro do contexto do sistema educativo (ADELL, 1997).
As TIC estão a transformar os modos de usar e pensar os conteúdos das várias disciplinas e, consequentemente os processos pelos quais esses conteúdos são ensinados. No entanto, as novas tecnologias devem ser encaradas como mais um recurso educativo disponível para o professor.
A escola tem que estar familiarizada com o recurso a ferramentas informáticas e tem que saber integrar essa familiaridade na acção educativa normal, de modo a manter-se integrada na realidade que a circunda. Nos últimos anos, têm sido tomadas várias medidas mas a realidade ainda está distante dos objectivos traçados, sobretudo ao nível dos equipamentos.
Ao marcar a sua presença no ciberespaço, a escola faculta aos alunos não só o acesso a vastos repositórios de dados, mas também a múltiplas oportunidades de interacção social: podem “aprender-fazendo” coisas, em vez de “aprender-ouvindo dizer” como é que as coisas devem ser feitas. O aluno pode construir o seu próprio saber num processo cumulativo de ajuda múltipla e de percepção partilhada de problemas e necessidades.
O manancial de tecnologia que os alunos têm hoje à sua disposição e o modo como com ela interagem, leva-os a exigir dos seus professores um conhecimento e uso dessas ferramentas, assim como uma escola onde possam encontrá-las (SANTOS, 1997).
Outras questões se levantam: estarão os professores preparados para utilizar as ferramentas postas à sua disposição na execução das suas tarefas diárias? Estarão efectivamente preparados para acederem às fontes de informação e comunicação, como por exemplo a Internet, e daí poderem tirar aplicações didácticas?

Documento nº 3 - "As Tic, a Ciência e a Escola - Novos Desafios"

“O acesso a grandes quantidades de informação não assegura a possibilidade de o transformar em conhecimento. O conhecimento não viaja pela Internet. Construí-lo é uma tarefa complexa, para a qual não basta criar condições de acesso à informação. Hoje, para poder extrair informação útil do crescente oceano de dados acessíveis na Internet, exige-se um conhecimento básico do tema investigado, assim como estratégias e referenciais que permitam identificar quais fontes são fiáveis. Por outro lado, não devemos esquecer que, para transformar a informação em conhecimento, exige-se – mais do que qualquer outra coisa –pensamento lógico, raciocínio e juízo crítico.”

(Martínez, 2004, pg. 97)
Da sociedade da informação à sociedade do conhecimento

Nos últimos anos, a Escola deixou de ser o principal meio de informação para as novas gerações e passou a concorrer com outros meios como a televisão e a Internet. No entanto, é preciso ter presente que informação e conhecimento não são exactamente a mesma coisa. O conhecimento implica sempre informação, mas a acessibilidade à informação nem sempre implica a construção de conhecimento.

Desde a invenção da escrita e durante séculos, a informação sempre foi escassa e de difícil acesso. A parte mais valiosa e interessante da informação estava disponível em textos que só eram acessíveis a uma minoria. Com a invenção da imprensa deu-se uma revolução sendo possível registar e reproduzir textos facilmente. Mas a massificação de livros e as revistas demorou muito tempo e só nas últimas décadas se concretizou. Além disso, é preciso não esquecer que até ao início do século XIX, os níveis de analfabetismo eram muitíssimo altos no mundo inteiro. Hoje a quantidade de informação disponível e acessível é completamente diferente. É cada vez mais abundante e fácil de obter, por exemplo, através da Internet.
Como refere José Joaquín Brunner, o actual problema da Educação “não é onde encontrar a informação, mas como oferecer acesso a ela sem exclusões e, ao mesmo tempo, aprender e ensinar a seleccioná-la, avaliá-la, interpretá-la, classificá-la e usá-la” (2004, pp. 24-25).

O mesmo autor sublinha que relativamente ao conhecimento, “elemento central do capital cultural produzido pela escola”, também ocorreram grandes alterações. Até há pouco tempo atrás, “a missão de inculcar conhecimentos era favorecida pelo facto de a plataforma global do conhecimento e as bases do conhecimento disciplinar serem relativamente reduzidas e estáveis, o que facilitava o trabalho da escola” (Idem). Em contrapartida, nos nossos dias, o conhecimento aumenta e é alterado com grande velocidade.

Daí um novo desafio que se coloca à Escola é a necessidade de desenvolver nos alunos “funções cognitivas superiores (…) indispensáveis num meio saturado de informação, evitando que o ensino fique reduzido ao nível das destrezas elementares” (Idem, p. 25).

Como referem Wenger e colegas, a Escola deve oferecer a aprendizagem como a chave para o mundo – como a chave para um infinito número de formas de ser e de participar no mundo. Deve construir diversidade e criar diversidade.

O desejável não é que os alunos saiam da escola com um saber enciclopédico uniforme. Pretende-se que os alunos deixem a escola e possuam conhecimentos, mas também possuam auto-controlo, tenham capacidade de resolução de problemas, de planeamento, de reflexão, sejam criativos e tenham capacidades de compreensão e de comunicação com os seus pares e de adaptação a um mundo em constante evolução.
O papel das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) na Escola
"Mais que um guia imensamente permissivo que articula cada um a todos os outros, a rede apela para um jogo infinito de combinatórias, para a participação activa - interactiva - do navegador. Ela permite por isso, não apenas 'viajar' nos mundos já conhecidos, como 'navegar' nos mundos por descobrir."
(Olga Pombo In
O Hipertexto como Limite da Ideia de Enciclopédia, p. 23)

Como refere Daniel Firmus (2004), o tipo de saber que predomina na Escola actual ainda é atomizado, enciclopédico e baseado na memorização. Está desvinculado da realidade. É baseado em dados, datas e fórmulas que servem para passar nos exames, cuja principal função é darem acesso a novos exames. Enquanto que este tipo de saber tinha razão de existir no contexto das relações sociais e de trabalho que predominavam há mais de um século e que convergiam para a preparação dos alunos para um mundo relativamente estável, hoje em dia revela-se inadequado.

A rapidez com que a Ciência evolui e a Tecnologia se torna obsoleta, o desaparecimento de profissões e postos de trabalho vitalícios obrigam a pensar na necessidade de formar cidadãos com capacidade permanente de se actualizarem e de se adaptarem às mudanças que irão pautar as suas vidas. A Escola mais do que ensinar conteúdos específicos deverá “ensinar a aprender” e gerar uma atitude positiva face à mudança contínua e à formação ao longo da vida

Neste contexto, a importância do papel que assume o domínio das TIC é inquestionável. São inúmeras as justificações para o seu uso na Escola. Brunner (2004) aponta algumas delas:

- Capacitar os alunos para a utilização de instrumentos que já estão a ser utilizados na sociedade e que no futuro se espera que venham a ter um impacto ainda maior (no trabalho, no lar e nas comunicações);
- Aumentar a motivação dos alunos, melhorar as suas capacidades de pensamento lógico e numérico, desenvolver as suas capacidades de aprendizagem autónoma e de criatividade, e favorecer atitudes mais positivas em relação à ciência e à tecnologia, assim como uma maior auto-estima por meio do domínio das tecnologias;
- Fornecer a professores e alunos um meio que poderá conectá-los com uma fonte quase inesgotável de informação e dar-lhes acesso a um enorme arquivo de conhecimento;
Incrementar a eficiência da gestão escolar e aumentar a potência e a intensidade dos processos de ensino aprendizagem;

- Facilitar uma comunicação dos professores com as famílias dos alunos e ajudar a estreitar laços com a comunidade;
- Diminuir a brecha digital existente entre os alunos de famílias com maior poder aquisitivo (que têm acesso à utilização dos meios informáticos em casa, em colégios particulares…) e os alunos de famílias mais desfavorecidas.

No entanto, é indispensável acentuar que a utilização das TIC na Escola não é sinónimo de domínio de instrumentos tecnológicos. Pode ter consequências profundas na própria transformação da Escola e na forma como se processa a construção do conhecimento pelos indivíduos.

“A questão não se resume à técnica pela técnica nem ao acréscimo epidérmico de técnicas. A educação escolar é um todo tradicional, apoiado nos seus pilares tradicionais. Dessa forma, a tecnologia não é um adorno ou adendo superficial que se possa incrustar no velho prédio sem que outras partes sejam afectadas. Voltada para a continuidade das gerações, não por acaso a educação escolar apresenta consistente unidade e intensas forças coesivas em que uma componente afecta o outro. Assim, as novas tecnologias da informação e de comunicação alteram sensivelmente as relações entre os actores e entre os componentes do sistema. Não se trata de mudanças fáceis e rápidas, mas de alterações que se referem aos próprios apoios fundamentais da edificação.”
(Wertheim, 2004, p. 8)

Por outro lado, de modo nenhum se pode pensar que as tecnologias são milagrosas e que por si só vão transformar a Escola. Wertheim alerta-nos simultaneamente para o optimismo e pessimismo pedagógico, salientando que “nem os sistemas educacionais se caracterizam por unidades inabaláveis, em que as mudanças são impossíveis, nem se caracterizam como terrenos de superficialidade, onde as tecnologias possam fazer o milagre da mudança rápida e, de preferência, indolor" (2004, p. 8).

- Que factores estarão na base de uma utilização dos computadores profícua e impulsionadora do sucesso educativo dos alunos?

- Como contribuir para a alteração de mentalidades e práticas de professores cuja formação está profundamente enraizada no ensino tradicional?