quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Documento nº 8 - "Concepções sobre o Desenvolvimento" (Parte I)

Quase todos os pais se espantam como foi possível que aquele "pedacinho de gente" com dois quilogramas e meio, incapaz de segurar a cabeça e olhar direito as pessoas, a mexer ao acaso as pernas e os braços e a emitir ruídos incompreensíveis e irritantes, se tivesse transformado, com o decorrer do tempo, em alguém capaz de falar, correr, ler, escrever, desenhar, atender o telefone, saber vestir-se, andar de bicicleta, fazer amigos, abraçar espontaneamente a avó e zangar-se quando o mandam para a cama ou lhe desligam o televisor.

Compreender as mudanças contínuas do ser humano operadas ao longo da vida e descobrir as razões dessas mudanças têm constituído um desafio para a psicologia, em especial para os psicólogos do desenvolvimento.


Desenvolvimento: conjunto das mudanças contínuas do ser humano ao longo da sua existência.

O conceito de desenvolvimento pressupõe uma sequência de alterações graduais que conduzem a uma maior complexidade no interior de um sistema ou organismo. Na evolução por que passa o indivíduo desenham-se estádios que seguem uma ordem praticamente imutável, mas o tempo de permanência em cada um deles varia conforme os indivíduos, pois que o ritmo de desenvolvimento de cada ser humano carece de uniformidade.

A psicologia do desenvolvimento é uma área especializada da psicologia que só amadureceu com o despertar do século xx. Até à contemporaneidade, era impossível o aparecimento desta área de investigação, em virtude dos estereótipos que se mantinham acerca do conceito de criança e da pouca importância que lhe era concedida.

Havia os que tinham uma visão negativa da infância, encarando a criança como uma espécie de selvagem quase sem humanidade, incluindo-a na mesma categoria em que mantinham os primitivos e os deficientes mentais.

Outros viam na infância uma idade em que a mente da criança funcionava como a do adulto. A diferença entre criança e adulto era apenas encarada em termos de crescimento e não de desenvolvimento. Por outras palavras, a criança, era tida como um adulto em miniatura. Não reconhecer o estatuto próprio da criança tinha reflexos negativos na educação familiar e escolar que lhe exigiam condutas muito próximas das do adulto, sem que ela pudesse comportar-se da forma pretendida.

O patamar das grandes mudanças quanto ao modo de encarar a criança radica no conceito de evolução apresentado por Charles Darwin. A teoria evolucionista de Darwin, estilhaçadora da fronteira intransponível entre animal e ser humano, abre caminho a uma nova perspectiva em psicologia genericamente apelidada de organicismo por oposição ao maturacionismo e mecanicismo.

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